“Existe nesta ilha um deleitoso sitio, tão deliciosamente poético que, no dizer de muitos, pode considerar-se sem exagero um mimoso éden; é a Freguesia da Urzelina. “
Esta freguesia, com 13,67 km² de área. Densidade: 63,4 hab/km². Distante das Velas cerca de 10 quilómetros confina com a povoação de Santo António (Norte) junto às antigas lagoas da “Chã das Lagoinhas”, com o mar em toda a sua extensão sul, com a fajã de Santo Amaro através do caminho novo e do lugar da Ribeira do Nabo (oeste) e com os Terreiros, freguesia das Manadas (leste). Tem o nome alternativo de São Mateus, o seu santo padroeiro. O seu nome deriva da abundância de urzela nas rochas do seu litoral, sendo um dos locais de onde mais se exportava aquele líquene tintureiro.
Um paraíso à Beira-Mar. Uma Sintra Jorgense.
A Freguesia da Urzelina fica a 10 quilómetros de distância da Vila das Velas, tendo o seu fim, a Norte, com a freguesia de Santo António, junto às antigas Lagoas da “Chã das Lagoinhas”, a Sul, finda junto ao mar, sendo este uma das suas maiores riquezas económicas, a Oeste finda junto à Fajã de Santo Amaro, tendo como extremidade o Caminho Novo a Sul, e mais a Norte, a Ribeira do Nabo. A Leste a Freguesia da Urzelina faz fronteira com os Terreiros, um lugar pertencente à Freguesia de Manadas.
Segundo vários estudiosos, em especial, segundo José Bettencourt da Câmara (2019) 1 a freguesia da Urzelina é conhecida por este nome, devido à planta tintureira que ali abundava, a Urzela, desde cedo esta planta foi explorada para a indústria têxtil da ilha e da Europa, onde este produto não abundava.
A ilha de São Jorge é constituída por um alto dorso montanhoso, que se perlonga até à costa, terminando em bruscas falésias, ao fundo das quais, se formam as fajãs. Na Urzelina o efeito dos vulcões dá o ar de se ter atenuado, o que permitiu formar uma larga encosta que se alonga calmamente até ao mar.
Na Urzelina floresceram vinhedos e, mais tarde, laranjais. O Lugar dos Casteletes produziu, antes do enraizamento da filoxera na segunda metade do Século XIX e antes ainda da erupção vulcânica de 1808, um dos melhores vinhos das ilhas, capaz de competir com o vinho da vizinha ilha do Pico, que já chegou, em tempos longínquos, às mesas dos Czares de toda aa Rússia.
Não existem dados que nos dão a indicação da data da fundação da Freguesia da Urzelina como paróquia, sabendo-se, através dos registos de Gaspar Frutuoso, no seu livro “Saudades da Terra, Livro VI”, que esta não é uma paróquia do século XV, uma vez que não há registos de existir uma paróquia entre São Jorge, padroeiro da Vila das Velas, e Santa Bárbara, padroeira das Manadas. Havendo apenas referência à Ermida de Nossa Senhora da Luz, no lugar da Queimada, Freguesia de Santo Amaro. Ermida de pequenas dimensões, mas que ainda persiste até aos nossos dias.
Ainda tendo em conta o Livro “Saudades da Terra” de Gaspar Frutuoso, citado por José Bettencourt da Câmara (2019), a freguesia da Urzelina era, até meados do
Século XVI, pouco habitada, e era considerada como uma “Fajã das Velas”, mas já aparece nos registos intitulado com o nome de Urzelina. Outro cronista que é citado por Câmara (2019), é Frei Diogo das Chagas, com a sua obra “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores”, século XVII, que se refere à Urzelina como “Ursalinha”, e que já lhe atribui São Mateus, como patrono e que já nesta altura temos a Urzelina como paróquia.
A Freguesia da Urzelina é conhecida como a “Sintra Jorgense”, sendo que esse nome se deve em muito ao facto de muitas das famílias afortunadas da ilha erguerem as casas de residência neste lugar, casas essas que ainda hoje demarcar a arquitetura da freguesia. Destacando-se a família Lacerda, da qual fazia parte um dos mais importantes
jorgenses da história da Ilha, Francisco Lacerda, que tinha uma casa de família no Fundo da Urzelina, parte mais leste da freguesia, um pouco mais a Norte do Porto da Urzelina e do seu forte. Essa casa fica junto da Torre da Urzelina, um dos mais importantes ícones da freguesia.
Atualmente a Freguesia da Urzelina é conhecida, por quem a visita e por muitos habitantes da Ilha, como um pequeno paraíso à Beira Mar, é ma freguesia que está muito ligada ao turismo, tem como espaços de fazer um Parque de Campismo e um complexo de piscinas ao ar livre, composto por uma piscina de maior profundidade e destinada aos maiores e melhores nadadores, e uma piscina mais pequena para os pequenos nadadores. Apresenta vários pontos balneares, abertos ao público em geral, onde se pode disfrutar de banhos de mar, e onde tem à sua disposição um conjunto de balneários e casas de banho, bem equipadas e sempre higienizadas, sendo de destacar, a zona balnear dos Portinhos, e a zona balnear do Porto da Ribeira do Nabo.
A nível de infraestruturas culturais, podemos destacar o Centro de Exposições rurais da Urzelina, um museu à beira-mar, constituído num antigo armazém de laranjas, e onde se pode recar no tempo, observando diversos objetos do quotidiano dos jorgenses, nos séculos anteriores.
A Torre da Antiga Igreja da Urzelina, que nos permite observar e relembrar a antiga freguesia, esta torre é de grande importância para a Freguesia, pois lembra aos urzelinenses a sua antiga igreja, igreja esta que ficou subterrada após o vulcão de 1808. E os Moinhos do lugar dos casteletes e do lugar dos Portinhos, que foram restaurados e conservados, podendo ser visitados por todos e mantendo viva a memória das atividades económicas da freguesia.
O Porto da Urzelina também é uma zona muito importante da freguesia, pois não só dele vemos sair vários barcos de pesca e de recreio, como no passado, este serviu uma acentuada produção e exportação de laranjas, cultura que marcou a freguesia economicamente.
O Forte da Urzelina, localizado no porto da Urzelina, é uma importante infraestrutura que demarca a importância estratégica da freguesia, devido à sua localização costeira, e às várias atividades económicas que fizeram parte da mesma, como a produção de vinho e as plantações de laranja. É uma peça arquitectónica que já serviu a defesa costeira da ilha e que apresenta, no seu interior, peças de artilharia que deviam ser estudadas e preservadas.
A Urzelina, a nível económico, apresenta duas padarias/ pastelarias, que fazem as delícias de quem visita a freguesia e que garante a distribuição de pão a todos os habitantes da mesma. Tem no seu conjunto quatro restaurantes que empregam um considerável número de pessoas, e que dão a conhecer as delícias gastronómicas da ilha.
Tem uma oficina de carros acompanhada por um stand, uma bomba de combustível, e
uma cooperativa de artesanato.
A Cooperativa de artesanato situa-se no Lugar da Ribeira do Nabo, lugar que tem como padroeira Nossa Senhora da Encarnação. Na minha opinião, a Cooperativa de Artesanato da Ribeira do Nabo é muito mais do que uma atividade económica, é um lugar onde se mantém viva uma cultura de artesanato que faz parte da história da freguesia, é um lugar de memória e conservação de património material, os teares e as mantas feitas de forma artesanal e tradicional, e um lugar de preservação de um património imaterial importante e com necessidade urgente de preservação, os saberes e as técnicas do tear, do fiar e da tecelagem. Igual a esta cooperativa só existe mais uma na ilha, na Fajã dos Vimes, uma pequena cooperativa mantida por uma família da zona.
Em suma, a freguesia da Urzelina não é das mais antigas da ilha, não é paróquia desde o século XV, nem teve uma importância económica para a ilha desde os primórdios da mesma, contudo foi evoluindo de forma significativa, foi crescendo a nível de infraestruturas e população, e hoje é uma das freguesias mais importantes da Ilha, nesta freguesia houve a fixação de famílias das mais importantes da ilha, implementou-se estruturas económicas de fários sectores económicos, e hoje temos um freguesia imensamente marcada pelo turismo de lazer e pelo turismo cultural.
A Urzelina é uma freguesia paradisíaca, que tem muto a oferecer a quem a visita e que não deve ser esquecida, mas sim enriquecida e melhorada.
Manter o que há de mais tradicional nesta freguesia, é enriquecer a ilha e o Concelho de Velas em especial, é recordar aos jorgenses que a ilha de São Jorge é uma ilha cheia de vida e riquezas incalculáveis, e é atrair até à mesma a curiosidade de quem visita os Açores e quer conhecer o que há de mais típico e culturalmente tradicional em cada freguesia, concelho e ilha dos Açores.